quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

A folha


Será que a folha branca acredita
na escrita do poeta
será que é iludida
e sente como carícia
o traçado de sua caligrafia
será que desconfia que tamanho amor
pode ser tão grande mentira
ou simplesmente aceita
e toma como história vivida
aquela dor perfeita
até ser desenganada
e pelas mesmas mãos firmes
ser amassada
como se fosse um erro
ou um nada.
Melhor destino teria
se tivesse sido lançada
ao fogo ou em exatas
medidas dobrada
transformada em gaivota
para alcançar o azul
que começa na borda da janela.

sexta-feira, 27 de março de 2015

esse conforto

pr’essa melancolia latente sempre
encontro conforto na livraria
da travessa na hora
do almoço ou quando escurece.

esse conforto logo transtorna-me:
ansiedade, angústia, aflição
para dar conta de ler tantos volumes
que se acotovelam na minha estante.

esse conforto logo vira uma ponta
aguda de inveja, como se houvesse do tipo
benigno, por não ter sido eu a escrever
aquilo que me veste em justa medida

esse conforto logo transforma-se
em consciência da pequenez e da absoluta
inutilidade do que escrevo
e que me deixa vulnerável  como

quem, pessoa ou planta ou livro, abre-se.
não estou morto.
n’algum ponto ermo
sei que não sou todo erros.

terça-feira, 23 de setembro de 2014

O erro do corretor

Publiquei na sua página a palavra errada,
as iniciais eram as mesmas e
o corretor ortográfico autocompletou.
Ou terá sido ato falho?
Onde estão os sete erros?
Vamos tentar o novo:
amorizade ou
amizor.

sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

É ela

Não é a exclusiva saudade,
nem o idealizado amor,
tampouco a imprescindível liberdade
ou a sonora e deliciosa bunda.
Minha palavra favorita é
despedida.
É ela que sempre fica.

sábado, 14 de dezembro de 2013

RSA

Metal, vidro ou papel?
Orgânico ou seco?
Tóxico ou reciclável?
Bem embrulhado
no saco plástico do supermercado
em qual lixo eu
jogo meu amor?

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

Nota oficial


Não tenho vocação para a felicidade.
Há tristezas tão belas,
E o belo justifica-se por si.
Prefiro o instante sublime
à assustadora eternidade.
Tudo tem seu tempo.
É preciso aceitar que o tempo de algumas
Coisas e sentimentos
Foi ontem.
Gosto de despedidas,
ainda que às vezes doa não termos
Vivido tudo o que poderíamos.
A história vira memória ao amanhecer.
O casamento é o epílogo da paixão.
A monogamia é uma violência.
Sempre tentei ser leal a mim,
Nem sempre consegui.
Todo mundo mente,
E as mentiras pra mim mesmo são as principais.
Sou um canalha romântico
Amo sobre todas as coisas a minha liberdade.
E a liberdade anda presa à solidão.

domingo, 1 de setembro de 2013

Pra seu governo


O medo me governa.
Bravo, escrevo.
Peça vã de resistência.
A inveja me governa,
reconheço que almejo
mais do deveria
o que vejo
atiça minha cobiça.
A vaidade não vai
fica à distância

segura da humildade.
A ira não me governa.
Nem a gula,
Nem a preguiça,
Nem a avareza.
A luxúria, com certeza.
Sendo claro:
Meu pau me governa.
Sou bicho, talvez
Diga você.
Você me desgoverna.

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Nos conformes

Mais que conformidade,
o amor exige conformação.
O que é bem diferente de conformismo.
E dá um certo conforto.

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Suaves prestações

Eu cometeria suicídio
uma vez por dia,
cada vez que dissesse a verdade.
Covarde que sou, escolhi a morte
parcelada
em cigarros e mentiras
e em viver sem poesia.

O anjo pousado sobre meu ombro direito
me sopra que é melhor assim, buscar
a poesia é a maior das ilusões.
Ela é sempre fugidia.
A vida é mais reta - ele diz.
Mas o demônio no ombro esquerdo insiste...

quinta-feira, 4 de julho de 2013